quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma década de espresso

Matéria escrita por Isabela Raposeiras na seção "naxícara" da revista Menu de Julho de 2010.

Em recente entrevista em um programa ao vivo, um telespectador me perguntou se o crescimento do mercado de cafés de qualidade se deu por demanda do consumidor ou por pressão dos produtores. Devo admitir que esta foi uma das poucas perguntas inéditas que respondi nestes dez anos de carreira cafeeira. E respondi: "nem um nem outro."

Quando comecei a trabalhar com café, havia apenas três marcas de qualidade, produzidas por uma fazenda que costumava, como tantas outras, apenas exportar toda a produção de seus melhores cafés. Por razões que não saberia expor, eles decidiram dar início a um projeto que movimentaria muitas pessoas e alguns cifrões e fomentaria uma nova (e antiga) profissão chamada barista. Aliás, em razão da iniciativa desses visionários, uma década atrás, estou escrevendo estas palavras saboreando um belo exemplar dos melhores grãos brasileiros.

O primeiro campeonato brasileiro de barista inaugurou um movimento de crescimento exponencial do consumo dos cafés especiais e gourmets e apresentou o universo do barismo ao consumidor, acostumado, até então, a cafés amargos e agressivos. A consequência foi o aumento da demanda por cafés melhores em restaurantes, cafeterias e empórios. Palavras como café arábica, Mogiana, Sul de Minas e espresso escrito com "S" começaram a ficar familiares àquelas pessoas que buscam sabores e aromas novos e prazerosos e também sair dos limites dos profissionais de café.

Um bom exemplo desse movimento é o número enorme de novas cafeterias abertas em minúsculas e pequenas cidades dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e ainda nas cidades de João Pessoa, Natal, Recife, Salvador, etc. Eu e outros profissionais e instrutores da ciência do barismo somos procurados semanalmente por futuros empresários de cafeterias, dispostos a comprar os melhores equipamentos, pagar justamente por excelentes grãos e treinar seus funcionários para servir um produto que agradará aos consumidores já iniciados nos prazeres dos bons cafés e àqueles que ainda vão se encantar.

Isabela Raposeiras, barista, é proprietária do Coffee Lab, ministra cursos e dá consultorias na área. Seu e-mail é isabela.colab@revistamenu.com.br

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